TH Joias é afastado: governador aciona volta de Picciani após prisão por tráfico e corrupção

TH Joias é afastado: governador aciona volta de Picciani após prisão por tráfico e corrupção

De presidente de comissão a preso por tráfico: a queda de TH Joias

O deputado que comandava a Comissão de Defesa Civil da Alerj foi preso sob suspeita de vender armas, lavar dinheiro e intermediar drogas para o Comando Vermelho. No mesmo dia, o governador Cláudio Castro tirou a cadeira dele ao anunciar o retorno do primeiro suplente, Rafael Picciani. Com a volta de Picciani ao Legislativo, o segundo suplente TH Joias (Thiego Raimundo dos Santos Silva) perde automaticamente a vaga.

A prisão ocorreu nesta quarta, 3 de setembro de 2025, em um condomínio de alto padrão na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. A ação fez parte da Operação Bandeirante, uma força-tarefa da Polícia Federal, da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio. Segundo a investigação, o deputado usou o mandato para abrir portas a traficantes, negociar fuzis vindos do Paraguai e comprar equipamentos antidrones na China, repassando o material a chefes do tráfico nos complexos da Penha e do Alemão. Há indícios de que ele também vendeu itens para grupos rivais quando havia lucro alto, especialmente nos equipamentos antidrones, onde teria multiplicado por dez o valor.

O caso expõe um ponto sensível: a infiltração do crime organizado na política fluminense. A própria Alerj registrou, em 24 de setembro de 2024, uma audiência pública sobre uso criminoso de drones. Na ocasião, TH Joias posou como defensor da segurança e cobrou respostas do Estado. Um ano depois, aparece como uma das peças centrais de um esquema que tentava justamente driblar o poder público com tecnologia e rede de proteção.

Cláudio Castro disse que a volta de Picciani ao Parlamento estava prevista e foi acelerada pela operação, reforçando que "a lei vale para todos". O movimento tem efeito imediato: com o titular da vaga reassumindo, o segundo suplente perde o mandato. Foi assim que o Palácio Guanabara esvaziou a cadeira de TH Joias poucas horas após a prisão.

TH Joias tinha assumido a função em junho de 2024, após a morte de Otoni de Paula Pai. Naquela época, o primeiro suplente, Rafael Picciani, preferiu continuar no governo estadual, abrindo espaço para o segundo suplente. Agora, Picciani deixa o Executivo e retorna à Alerj.

A Operação Bandeirante prendeu 15 pessoas. Entre os alvos estão assessores parlamentares, policiais e um delegado federal lotado no Aeroporto Internacional do Rio. Três suspeitos seguem foragidos. O conjunto das prisões indica um elo entre o varejo do crime nas comunidades e áreas estratégicas do Estado, onde decisões e informações sensíveis circulam.

  • Três assessores parlamentares ligados ao gabinete de TH Joias;
  • Cinco policiais militares;
  • O delegado da Polícia Federal Gustavo Stteel, que atuava no Aeroporto Internacional do Rio;
  • O ex-secretário Alessandro Pitombeira Carracena;
  • Gabriel Dias de Oliveira, o "Índio do Lixão", apontado como traficante;
  • Luiz Eduardo Cunha Gonçalves, assessor de TH Joias;
  • Além de outros investigados cujos nomes não foram divulgados, e três foragidos.

O núcleo do esquema, segundo a investigação, misturava facilitação política, proteção armada e logística. O roteiro mais comum cruzava fronteiras: armas que entravam pelo Paraguai e tecnologia importada da Ásia. Drones viraram ferramenta de vigilância para o tráfico em áreas íngremes e com presença policial constante. O contrapeso é a compra de equipamentos antidrones, que derrubam ou interferem no sinal. Esse mercado, normalmente restrito e caro, vira ouro quando a pressão do Estado aperta. É nesse vácuo que, segundo o inquérito, o deputado operava, conectando fornecedores, policiais e chefes de quadrilha.

O envolvimento de um delegado da PF em serviço no aeroporto colocou a segurança de cargas e voos no radar da investigação. Em aeroportos, o controle de entrada e saída de mercadorias é um ponto sensível. Se alguém com acesso interno facilita o trânsito de peças, o risco de blindar o esquema cresce muito. Isso ajuda a explicar por que a operação juntou PF, Polícia Civil e MP-RJ: o caso tem ramificações federais e estaduais.

Nas comunidades citadas pelo inquérito, como os complexos da Penha e do Alemão, o uso de drones pelo crime não é novidade. Eles mapeiam rotas, vigiam patrulhas e protegem depósitos. A resposta do Estado tem sido adaptar procedimentos, usar sistemas de detecção e avançar na inteligência. Quando surge um intermediário com mandato, que oferece tecnologia de contrainteligência, o jogo pesa contra a polícia. É essa a chave de gravidade do caso.

O que muda na Alerj e os próximos passos na Justiça

Com a volta de Rafael Picciani, a Alerj recompõe a bancada e reduz o impacto do escândalo no plenário. Internamente, a Casa pode abrir processo no Conselho de Ética, caso entenda que há quebra de decoro. A decisão depende de provocação formal e da avaliação da Mesa Diretora. Enquanto isso, a investigação criminal segue em paralelo, em segredo de justiça, segundo fontes envolvidas nas diligências.

O processo de substituição no Legislativo estadual é simples: o primeiro suplente assume a vaga quando o titular está impedido ou a cadeira fica aberta. Se o primeiro suplente não toma posse, o segundo entra. Foi o que aconteceu em 2024, quando Picciani ficou no governo e a vaga passou a TH Joias. Agora, com Picciani de volta ao plenário, cessa o mandato do segundo suplente.

O deputado preso passará por audiência de custódia na quinta, 5 de setembro de 2025. Nessa etapa, um juiz avalia a legalidade da prisão, as condições do detido e se há motivos para mantê-lo na cadeia. O Ministério Público pode pedir a conversão para prisão preventiva, argumentando risco à ordem pública, à instrução do processo ou possibilidade de fuga. A defesa costuma pedir liberdade com medidas cautelares, como tornozeleira e proibição de contato com investigados. O veredito inicial sai nessa sessão.

Há ainda o debate sobre foro. Em geral, deputados estaduais têm prerrogativa de foro no Tribunal de Justiça quando os fatos se relacionam ao exercício do mandato, mas a aplicação depende do desenho do caso e de decisões do Judiciário. O uso de múltiplas frentes policiais na operação mostra que os investigadores veem alcance amplo nos crimes, do tráfico de armas e drogas à lavagem de dinheiro.

Do ponto de vista político, a fala do governador de que "a lei vale para todos" tenta blindar o Palácio Guanabara do desgaste. Ao reabrir espaço para Picciani, Castro recompõe a base com um nome conhecido e, ao mesmo tempo, afasta a imagem de conivência com o suspeito. É um cálculo de dano: resolver a questão institucional rápido enquanto a investigação ganha corpo.

Os próximos capítulos dependem de provas técnicas: rastreio de mensagens, quebras de sigilo, notas de importação, registros de armas e movimentações financeiras. Equipamentos antidrones deixam rastro: números de série, manuais, firmware. A origem de fuzis também pode ser cruzada com lotes e apreensões anteriores. Se a polícia fechar esse circuito, o caso não ficará em versões.

A lista de presos inclui assessores, PMs e um delegado federal, algo que acende alerta para a rede de proteção que circunda o crime. É nesse ponto que a investigação costuma se alongar: entender quem protegia quem, em qual repartição, e por quanto. O impacto prático aparece nas comunidades, onde a polícia precisa operar sem vazamentos e com tecnologia à altura.

Por ora, três investigados seguem foragidos, e a operação continua. Alerj, governo e forças de segurança tentam isolar danos e manter a rotina. Se o Conselho de Ética for acionado, abre-se outra frente: a política. No Judiciário, a audiência de custódia dá o tom do que vem pela frente: liberdade vigiada ou manutenção da cadeia enquanto a investigação avança.