Da infância nas canaviais ao pódio da São Silvestre
Maria Zeferina Baldaia conquistou as primeiras vitórias correndo descalça entre as plantações de cana de açúcar em Sertãozinho, interior de São Paulo. Aos 12 anos, ainda sem tênis, começou a usar o ritmo das raízes como treino, e por quinze anos manteve o mesmo padrão, enfrentando a terra quente e os alfinetes da plantação.
O ponto de virada chegou em 2001, quando Baldaia cruzou a linha de chegada da tradicional corrida de fim de ano e levou o primeiro lugar. A vitória não foi apenas um troféu: abriu portas para patrocínios, inclusive um contrato de calçados que mudou sua rotina de treinos. Em pouco tempo, o atleta saiu do Brasil para representar a bandeira nacional em mais de dez países, trazendo histórias de superação para o mundo.
Participar de maratonas na Europa, América do Norte e Asia trouxe mais que experiência competitiva. Cada corrida se transformou em uma oportunidade de mostrar que o Brasil pode produzir corredoras de elite, mesmo saindo de cenários humildes.

Ativismo e legado: esporte como ferramenta de mudança
Com a fama, Baldaia percebeu que podia usar sua voz para algo maior que medalhas. Ela passou a dedicar tempo a projetos que incentivam meninas e mulheres a praticar esportes, especialmente em comunidades onde o acesso a equipamentos ainda é escasso. Em palestras, destaca como o esporte ajudou a romper barreiras de gênero e a mudar percepções sobre o que uma mulher pode alcançar.
Em eventos como o TS Summit, promovido pela Ticket Sports, a atleta contou que o reconhecimento que recebeu "não tem preço" porque permite inspirar outras a transformar suas vidas através da corrida. Seu engajamento vai além de palavras: participa de campanhas de doação de tênis, organiza treinos gratuitos e ajuda a criar redes de apoio para atletas jovens.
A história de Baldaia ganha ainda mais relevância com a chegada da edição centenária da São Silvestre em 2025. A corrida, que marca 100 anos de tradição, tem se convertido em palco para discutir igualdade de gênero e inclusão no esporte. A presença de Maria Zeferina, agora como ícone e mentora, reforça a mensagem de que talento, determinação e apoio são suficientes para mudar destinos.
Enquanto a contagem regressiva para o grande dia avança, a trajetória de Baldaia continua a inspirar corredores que ainda sonham em trocar as canaviais pelos circuitos internacionais. Cada passo seu demonstra que, quando a barreira social é quebrada, o caminho se abre para toda uma geração de atletas que buscam não só vencer, mas também transformar a realidade ao seu redor.